Resumo: Artigo 36843
Inclusão Digital no Desenvolvimento de Software sob a ótica dos Estudos da Ciência, Tecnologia e Sociedade (3, 6, 10, 12)
Rogério Veiga, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 204 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 32 - Chair: Maria Lucia Maciel
Abstract.
Denomina-se Inclusão Digital no Desenvolvimento de Software a formação e capacitação em massa de jovens de baixa renda em técnicas de programação, engenharia de software e outras atividades relacionadas ao desenvolvimento de software. Um dos argumentos para a inclusão digital-desenvolvimento é o elevado crescimento no número de empregos no setor de software com salários mais altos que a maioria dos outros setores. A inclusão social ocorreria através da ocupação destes empregos por jovens oriundos das classes mais baixas. Neste texto, busca-se analisar os impactos da inclusão digital no desenvolvimento sob a ótica dos estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Nesta vertente, o argumento é de que a inclusão de segmentos de mais baixa renda no desenvolvimento da tecnologia de software pode contribuir para a sua democratização, incluindo interesses e preocupações deste novo público no desenvolvimento tecnológico. O presente artigo tem como objetivo analisar as experiências de construção social da tecnologia, como o caso do envolvimento dos pacientes de AIDS no desenvolvimento de medicamentos e o videotex francês para, analogamente, evidenciar alguns possíveis impactos que a inclusão de jovens de baixa renda nas redes de desenvolvimento de software podem trazer para o desenvolvimento desta tecnologia. Os autores utilizados são Pinch e Bijker, Andrew Feenberg e Collins e Pinch. A pervasividade das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) faz com que estas tecnologias tenham importantes impactos econômicos, sociais e políticos. Pela Internet as pessoas acessam serviços públicos, fazem compras, comunicam-se, conhecem pessoas, fazem pesquisas, declaram imposto de renda, participam de cursos, etc. A mediação das TICs pode ocorrer de diversas formas, dependendo das escolhas feitas e inseridas no código técnico: o software pode estar preparado para atender deficientes visuais, com dispositivos de voz e teclado braile para comunicação; a interface pode ser voltada para interação com pessoas de alfabetização rudimentar; os meios de pagamento das compras efetuadas podem ser apenas cartões de crédito, que envolvem considerações sobre a segurança e exclusão daqueles que não possuem este tipo de meio de pagamento; a comunicação pode ocorrer de forma anônima ou exigir identificação. Estes são apenas alguns exemplos de como a mediação pode concretizar-se, com conseqüências sociais diferentes em cada caso. As TICs e os softwares são construções sociais. Desta forma, a tecnologia final é uma função dos atores envolvidos e da força de cada um deles. A inclusão de novos atores, com novas interpretações sobre os usos possíveis da tecnologia e capazes de influenciar no desenvolvimento tecnológico, alteram os rumos da tecnologia. Quanto maior a pluralidade destes atores, maior a gama de interesses contemplados e, assim, mais democrático o processo. É importante observar que as questões tecnológicas só interessam às pessoas afetadas diretamente por ela, quando disponibilizam parte do seu tempo para estas questões e que não há uma única correlação entre avanço tecnológico e distribuição social de poder. Tendo como base os casos descritos em livro escrito por H. Collins e T. Pinch, sobre o desenvolvimento de remédios da AIDS e no caso do Minitel francês, descrito por Andrew Feenberg, vislumbra-se que a inclusão digital no desenvolvimento de jovens de baixa renda tende incluir os interesses deste público no desenvolvimento de softwares. Eles passam a ser afetados diretamente pela tecnologia e tendem a envolver-se mais com as questões tecnológicas. O envolvimento constante da população em atividades técnicas gera conhecimentos situados que se tornam a base para a intervenção pública. Em alguns casos, a intervenção pública provoca controvérsias técnicas e incluem novas visões no seu desenvolvimento. Em outros, há uma reinterpretação da tecnologia e um novo uso é dado.